Quando se preocupar com a ansiedade?

Qual a linha divisória entre um comportamento normal e um problema de saúde?

Paulo Palma Beraldo

A palavra “ansiedade” tem compreensões que podem confundir: trata-se de uma doença ou um estado de espírito? Um problema ou uma precaução? Nos dicionários, as respostas: aflição, angústia, perturbação do espírito causada pela incerteza, relação com qualquer contexto de perigo, ânsia, nervosismo entre outros.

A maior parte das pessoas se sentirá ansiosa em algum momento. Seja para um compromisso, uma prova, uma viagem. Para uma festa ou até um programa de TV. É uma característica biológica que antecede situações de risco, seja ele real ou imaginário.

O problema existe quando a ansiedade extrapola os limites e causa problemas no convívio social, explica o psiquiatra Luciano Isolan. Estar ansioso por fatos que não aconteceram e talvez nem venham a ocorrer pode atrapalhar o cotidiano. Ter medos e preocupações excessivas com trabalhos, prazos, datas e ocasiões podem fazer mal à saúde e estão relacionados a distúrbios de ansiedade.

Sintomas comuns da ansiedade são taquicardia (coração acelerado), suor nas mãos, tensão muscular, dispneia (falta de ar) e cefaleia (dor de cabeça). A ansiedade pode estar relacionada ainda com o transtorno do pânico e o transtorno obsessivo-compulsivo, o TOC.

“Ataques de raiva, crises de choro e irritabilidade frequentemente ocorrem em crianças com transtornos de ansiedade e podem ser mal interpretados como sendo oposição ou desobediência quando na realidade são manifestações de medo ou esforços para evitar situações desencadeadoras de ansiedade”, informa o psiquiatra Luciano Isolan.

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Cerca de 20 milhões de brasileiros sofrem com  a ansiedade. (Foto: Paulo Palma Beraldo)

O psiquiatra afirma que “a identificação precoce e o tratamento eficaz desses transtornos nessa faixa etária podem reduzir o impacto da ansiedade no funcionamento social”.  Segundo pesquisa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, cerca de 12% da população brasileira é ansiosa – aproximadamente 20 milhões de pessoas. 

A ansiedade não tratada ou negligenciada pode causar doenças mais severas ao longo do tempo, explica o psiquiatra. “A ansiedade na infância e adolescência se relaciona com depressão no final da adolescência ou na vida adulta”, alerta Pedro Gomes de Alvarenga, do Departamento e Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e do Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento (INPD).

Como surge a ansiedade?

Segundo Pedro de Alvarenga, as causas vir de fatores familiares genéticos e não-genéticos, traços de personalidade da criança (introversão, por exemplo) e fatores ambientais (traumas, abusos). Ele também cita a superproteção por parte de pais como um fator que pode contribuir para a ansiedade.

O psiquiatra Luciano Isolan concorda e acrescenta detalhes: “pais muito ansiosos, evitativos e tímidos também podem acentuar a ansiedade de seus filhos”. Segundo ele, os pais e professores devem estar atentos a sinais e sintomas de ansiedade como preocupações excessivas com situações do cotidiano, timidez exacerbada e dificuldades de ficar longe de uma figura de apego, como mãe ou pai.

“Manias”

Popularmente conhecidas como manias, os sintomas obsessivo-compulsivos são frequentes em até 20% das crianças e adolescentes como um fator do seu desenvolvimento normal, comenta Pedro de Alvarenga. Assistir televisão apenas de um lado do sofá, lavar a mão toda vez em que chega a um novo local, pisar somente em uma cor de piso e outros comportamentos semelhantes podem preocupar os pais.

Quando essas manias ocupam muito tempo ou causam sofrimento para a criança ou para a família, é melhor prestar mais atenção. Pedro de Alvarenga diz que 1% das crianças e adolescentes é portador de transtorno obsessivo-compulsivo.

“Crianças que passam horas no banho, ou arrumando a casa, ou que tem de ‘caprichar’ tanto no dever de casa não conseguindo terminar a tempo, são exemplos típicos do transtorno”, explica Luciano Isolan. Ele argumenta que “para que os sintomas sejam considerados patológicos, eles devem interferir no funcionamento social, acadêmico/profissional ou em outras áreas importantes da vida indivíduo”.

Como pais e professores podem agir?

Pedro de Alvarenga explica que as estratégias de capacitação de pais e professores ainda são incipientes no Brasil, mas bastante desenvolvidas nos Estados Unidos e em países da Europa. “No caso de reconhecimento de sintomas, como medos, tensão, insônia, dores de cabeça ou de barriga, bem como ‘manias’ em excesso que atrapalham as crianças, os pais e professores podem procurar um profissional da área de saúde mental”.

Luciano Isolan diz que o método de tratamento depende da gravidade do caso. “Casos com sintomas mais leves a moderados podem ser tratados apenas com psicoterapia. Casos com sintomas mais moderados a graves podem ser tratados com medicação, sendo a associação entre psicoterapia

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