Setor de consertos cresce junto com a crise

Reparos e manutenção são alguns dos ramos em maior ascensão no mercado

Por Michele Matos 

Nos últimos meses, a economia nacional enfrenta uma de suas piores crises sem previsão certa de fim. A retração da indústria, a inflação e a baixa taxa de investimentos no Brasil fizeram com que vários setores da economia local fossem lesados. A construção civil e o ramo automobilístico são exemplos de segmentos que enfrentam dura recessão. Se a crise começou com grandes investimentos, hoje ela já afeta quase todos os setores do mercado. Com a falta de capital para o consumo, muitos comércios vivenciam uma grande queda de venda, e os ramos de moda e sapatos não estão ilesos.

Em contrapartida, algumas atividades tomam frente na economia e tiveram um grande aumento de procura, como os serviços de reparo e manutenção. O produto, que antes era jogado no lixo por algum dano, atualmente é levado para consertos. José de Souza Fernandes, 42 anos, mais conhecido como Cido, possui uma sapataria no centro de Bauru há 10 anos e diz que a procura por conserto de sapatos e bolsas vem aumentando consideravelmente: “nos últimos tempos aumentou um pouco mais [a procura]. Acho que tem influência do tempo, que está mais frio, mas a crise também pode influenciar”. O sapateiro acredita que seus lucros aumentaram praticamente o dobro comparado ao mesmo período do ano anterior. “Esse ano, eu consegui ganhar quase duas vezes mais do que ano passado. Dizem que a crise está ruim, mas, pelo menos aqui, no meu negócio, a coisa ainda não ficou preta não”, completa o sapateiro.

De acordo com o economista formado pela Universidade de São Paulo (USP), André Danelon, o aumento da procura por esse setor não é surpresa: “apesar de curioso, esse aumento da demanda por reparos é facilmente compreendida. A corrosão do poder de compra inibe o consumo, em destaque o da nova classe média, fazendo com que os indivíduos procurem alternativas menos dispendiosas.”

Uma vez que o consumo caiu, a procura por consertos aumentou. “É interessante observar como o ciclo de baixa da economia permitiu que o caráter consumista da sociedade fosse freado bruscamente e outros setores, antes deixados de lado, voltam a emergir em grande escala”, declara o economista.

Quem também percebeu o aumento da procura de seus serviços foi a costureira Ivanilda Souza Silva, 51 anos. Ela diz que a procura para pequenos consertos fez com que ela ficasse até mesmo sem tempo de realizar todos os reparos. “A procura não tem caído, não, muito pelo contrário, tem aumentado bastante. Eu estou recebendo tanta encomenda que preciso recusar alguns serviços, porque não estou dando conta. Tenho serviço até dezembro”, comenta a costureira.

A administradora de empresas, Janaina Oliveira, acredita que pagar o conserto de uma roupa está valendo mais do que comprar uma nova. “As coisas estão muito caras hoje em dia. Esse vestido eu paguei R$180 em 2010. Ao invés de gastar esse mesmo valor em outro, achei que compensava mais pagar para consertar”, afirma a jovem.

Segundo o economista, a fase atual é boa para o setor, mas é preciso atenção com o aliviamento da crise no futuro: “contudo, quando a recuperação econômica chegar (2º semestre de 2016/2017) esse mercado deve voltar as proporções médias históricas. Fica aqui a esperança que, das lições da que a crise nos traz, o consumo consciente tenha sido exercitado e compreendido por parte da população”, finaliza André.

Deixe um comentário